E, de repente, a alegria (Manuel Vilas)


Apesar do título, Manuel Vilas não foge nem esconde a natureza atormentada que nos deu a conhecer no seu primeiro livro - a que, de alguma forma, aqui parece dar continuidade - nas suas deambulações pelo seu mundo interior, despertado e espicaçado por tudo aquilo que o rodeia. 

Eu, como sempre, procurava nas cidades algum tipo de verdade ou de beleza, algum tipo de revelação intelectual, coitado de mim, quanto subdesenvolvimento espanhol acarretei às costas, a peste do Franquismo sempre às costas.

É possível encontrar, a espaços, a alegria. Mas a tonalidade é outra. Talvez seja isso, aliás, a presença desse negrume, dessa melancolia, que permite sentir a alegria e o êxtase que aqui e ali marcam a sua escrita. 

Estivemos aqui em Zurique e voltei doze anos depois, sendo um homem completamente diferente do que veio cá em 2007. E penso nessa metamorfose do meu corpo e da minha alma e não posso senão sentir-me agradecido a alguma forma de destino. Pois sei que não era feliz nesse ano 2007, não era. Não, não era. É muito possível que nunca o seja. Mas uma coisa é certa: estou a tentar, de uma forma esfarrapada. 

Pontuação: 9/10
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Foco (Daniel Goleman)

A probabilidade da nossa mente estar a divagar no exacto momento em que fazemos qualquer coisa é de 50%. E para onde divaga a nossa mente, nessa deambulação constante e persistente? Para onde nos leva, a toda a hora e a todo o momento em que nos encontra distraídos? Sítios escuros, becos sem saída, zonas nebulosas do mundo emocional e maioritariamente ruminativo...

A divagação da mente tende a centrar-se no nosso eu e nas nossas preocupações: tudo o que tenho de fazer hoje; o que não devia ter dito àquela pessoa; o que lhe devia afinal ter dito.

"Embora a mente por vezes vagueie até pensamentos ou fantasias agradáveis, parece mais frequente gravitar em redor da reflexão e da preocupação". Quando estamos focados, concentrados em alguma coisa que genuinamente nos absorve, a passagem por via da qual esse deambular tortuoso nos invade fica vedada. Não será esse o grande privilégio da infância? A capacidade que as crianças têm de estarem presentes em tudo aquilo que fazem, em cada coisa que observam, em que se envolvem? E no entanto, chegados à idade adulta, não é preciso ser um mestre zen para conseguir esse grau de concentração, essa abstração dos pensamentos periféricos (que habitualmente se repartem entre as angústia do passado e as ansiedades do futuro). 

Um inquérito a milhares de pessoas verificou que o foco no aqui e agora era mais elevado quando estavam a fazer amor, exercício físico, a falar com alguém ou a tocar um instrumento musical. 

Quando nos damos conta da capacidade que temos de desligar o ruído interior com actividades tão simples, e do privilégio que é entrar nesse estado de quietude mental, passamos definitivamente a valorizar mais cada uma dessas coisas. Mais do que tantas outras que repetidamente nos vendem como sinónimos de felicidade e bem estar. 

Pontuação: 8/10
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A arte subtil de saber dizer que se f*da (Mark Manson)

Mark Manson é um sucesso de vendas e não é por acaso. De uma forma simples e descomplicada, coloca-nos perante questões que tomamos por seguras e inabaláveis, verdades adquiridas não sabemos bem onde, nem porquê, capazes de moldar o que pensamos, o que fazemos e até o que sentimos, ao longo de uma vida inteira, de forma quase inquestionada.

Nós sofremos, pela simples razão de que sofrer é biologicamente útil. É o agente preferido pela natureza para inspirar mudança. (...) Estamos programados para nos tornarmos insatisfeitos com o que quer que tenhamos e satisfeitos apenas por aquilo que não temos. Esta constante insatisfação manteve a nossa espécie a lutar e a esforçar-se, a construir e a conquistar.

Estamos sempre a fazer escolhas - mesmo quando não nos apercebemos, o próprio acto de não fazer uma escolha, é uma escolha em si - e essas escolhas têm por base aquilo que (mais) valorizamos. São também esses valores que determinam aquilo que sentimos - felizes ou insatisfeitos - com aquilo que alcançámos e que nos permitem definir para onde queremos ir. Manson descreve um conjunto de valores considerados positivos, que se revelam verdadeiras armadilhas - "o prazer é óptimo, mas é um valor péssimo para se tornar a prioridade da nossa vida" - nas quais tantas (e tantas) vezes caímos.

A tomada de decisões com base na intuição emocional, sem o auxílio da razão para as manter na linha, é quase sempre um disparate. (...) Uma obsessão e investimento excessivo nas emoções falha-nos pela simples razão que as emoções nunca são duráveis. O que nos faz felizes hoje, já não o fará amanhã, porque a nossa biologia precisa sempre de algo mais.

Vale a pena dedicar umas horas no sofá - na praia, nos transportes ou na fila do supermercado - para perceber um pouco melhor sobre o que andamos por aqui a fazer. 

Pontuação: 9/10
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O Ano da Morte de Ricardo Reis (José Saramago)

Se nos fosse concedido o privilégio de voltar a ler, pela primeira vez, aquele livro que nos marcou de forma tão singular... O impacto seria o mesmo? Desconfio que não. As nossas circunstâncias seriam outras, somos diferentes hoje daquilo que seremos amanhã, pelo que aquilo que nos tocou num determinado período da nossa vida, ressoaria de forma diferente em qualquer outro. Ainda assim, correndo o risco de perder esse impacto tremendo e as marcas indeléveis que me ficaram da leitura deste livro, gostaria de poder pegar-lhe, uma vez mais, sem saber o que estava prestes a encontrar.  

Ricardo Reis sorriu também, com maior demora, disse, Tenho muito gosto, ou qualquer frase parecida com esta, que as há igualmente banais, quotidianas, embora seja caso muito lamentável não gastarmos nós algum tempo a analisá-las, hoje vazias, repisadas, sem brilho em cor, lembrando-nos só de como teriam elas sido ditas e ouvidas nos seus primeiros dias, Será um prazer, Estou todo ao seu dispor, pequenas declarações que fariam hesitar quem as dissesse, pela ousadia, que faziam estremecer de temor e expectativa que as ouvisse, estava-se então  no tempo em que as palavras eram novas e os sentimentos começavam. 

Este foi um dos livros da minha vida, pela sua simplicidade - na escrita, nos cenários, no tempo e no espaço em que decorre (Lisboa dos anos 30, para cujas ruas somos catapultados e onde parece que efectivamente vivemos, depois de termos habitado estas páginas) - e pela forma magnífica como faz ressaltar, no meio dessa simplicidade, o essencial da existência: as relações humanas, os pequenos gestos, os pensamentos mais ínfimos e discretos que insistentemente perfuram a superfície e nos mantêm em contacto connosco, os detalhes em cada coisa que fazemos, sentimos e dizemos. Os momentos singelos, esses de que é composta toda uma vida.   

Ricardo Reis almoçou sem ligar a dietas, ontem foi fraqueza sua, um homem, quando desembarca do mar oceano, é como uma criança, umas vezes procura um ombro de mulher para descansar a cabeça, outras manda vir na taberna copos de vinho até encontrar a felicidade, se lá a puseram antes, outras é como se não tivesse vontade própria, qualquer criado galego lhe diz o que deve comer, uma canjinha é que calhava bem ao combalido estômago de vossa excelência. 

Pontuação: 10/10
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E, de repente, a alegria

«Tudo aquilo que amámos e perdemos, que amámos imensamente, que amámos sem saber que um dia nos seria roubado, tudo aquilo que, após a sua perda, não conseguiu destruir-nos - embora tenha insistido com forças sobrenaturais e procurando a nossa ruína com crueldade e afinco - acaba, mais tarde ou mais cedo, transformado em alegria.» 

Manuel Vilas

O Animal Social (David Brooks)


Através da história de Harold e Erica, que acompanhamos desde o nascimento até à morte, David Brooks faz-nos um périplo pela existência humana, nos seus dilemas, complexidades e lugares comuns - mas não necessariamente evidentes - da vida de todos nós.

As crianças são treinadas para saltar milhares de graus académicos e, no entanto, as decisões mais importantes que tomarão têm que ver com quem casarão, de quem se tornarão amigas, o que amar e o que desprezar e como controlar os impulsos. Essas questões ficam praticamente entregues à sua sorte.

Como se tivessemos uma espécie de lente amplificadora dirigida a cada uma das delicadas fibras que compõem o tecido da vida humana - o amor, a família, o trabalho, a cultura, as escolhas e decisões, a política, a moralidade, a busca de significado, a velhice - vamos percorrendo os vários capítulos da vida destas duas pessoas, que podiam ser qualquer um de nós.

Grande parte da vida tem que ver com o insucesso, quer o reconheçamos, quer não, e o nosso destino é profundamente moldado pela nossa capacidade de aprender com o insucesso e de a ele nos adaptarmos.

O afecto, dedicação e amparo dos nossos pais - ou a falta dele - a valorização da educação e da cultura no contexto familiar, a estabilidade ou a insegurança do ambiente à nossa volta, cada um destes ingredientes acompanha-nos ao longo da vida, determinando a forma como nos posicionamos perante o mundo e os outros, influenciando a forma como encaramos tudo o que nos rodeia. 

Não somos quem julgamos ser, conclui Brooks a propósito do papel oculto e tantas vezes insuspeito que o inconsciente detém no percurso de uma vida, nas escolhas que fazemos, nas decisões que tomamos. 

O inconsciente é impulsivo, emocional, sensível e imprevisível. Precisa de supervisão. Mas pode ser brilhante. É capaz de processar uma catadupa de dados e, de forma ousada, dar saltos criativos. Acima de tudo, é também maravilhosamente gregário. O vosso inconsciente, esse extrovertido interior, quer que olhem à volta e se relacionem.

Se há livros que conversam connosco, este é um deles. E é uma conversa que gostaríamos que não acabasse. 

Pontuação: 9/9

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O Amor em Tempos de Cólera (Gabriel García Márquez)


Há amores que perduram para lá do tempo e de todas as probabilidades. O amor do protagonista desta história inigualável e o amor que guardamos para sempre a esta obra, depois de a conhecermos.

Era ainda demasiado jovem para saber que a memória do coração elimina as más recordações e exalta as boas e que, graças a esse artifício, conseguimos suportar o passado.

García Márquez dispensa apresentações e escreveu esta história de amor, desejo e persistência, delineada nos cenários fulgurantes de uma pequena cidade portuária do Caribe, grassada pela pobreza e pela cólera. Ao conhecer Fermina Daza, Florentino acredita que nunca mais estará sozinho. A partir desse dia alimenta um amor pelo qual se decide a esperar toda a vida, sem considerar o risco - insidioso e irrevogável - de desperdiçar a própria existência.

De modo que na tarde em que viu as andorinhas nos cabos da luz, reviu todo o seu passado desde a sua recordação mais antiga, reviu os seus amores de ocasião os incontáveis obstáculos que tivera de ultrapassar para chegar a um cargo de chefia, os inúmeros incidentes que lhe provocaram a sua determinação encarniçada de que Firmina Daza fosse sua e ele dela, passando por cima de tudo e indo contra tudo, e só então descobriu que a sua vida estava a gastar-se.

Desse lugar perdido na América Colonial dos finais do século XIX, ficam-nos as impressões mais indeléveis. Um lugar que passamos a conhecer em profundidade - as gentes, os costumes, os sons, as cores, os ritmos - sem nunca lá termos estado fisicamente.

Era inevitável: o cheiro das amêndoas amargas recordava-lhe sempre o destino dos amores contrariados. O doutor Juvenal Urbino sentiu-o assim que entrou na sala, ainda mergulhada em penumbra, onde fora de urgência para tratar de um caso que, para ele, já tinha deixado de ser urgente há muitos anos.

Pontuação: 10/10

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Livros para a quarentena


«A essência da loucura é a solidão. Uma solidão psíquica absoluta que provoca um sofrimento insuportável. Uma solidão tão superlativa que não cabe dentro da palavra solidão e que não pode ser imaginada por quem não a conheceu.» 
A Louca da Casa, de Rosa Montero

O Caminho Menos Percorrido (Scott Peck)

Se tivesse de identificar um dos livros mais determinantes no meu percurso de vida, de permanente descoberta e construção indicaria este. Scott Peck derruba conceitos que nos são incutidos cultural e socialmente desde muito cedo, permitindo-nos pensar de forma honesta e lúcida sobre realidades tantas vezes inamovíveis durante toda uma vida.

A tentativa de evitar o sofrimento está na base de todas as doenças emocionais.

Este é um livro transformador, que inquieta e desarruma quem se dispõe a pensar, reflectir e questionar certezas (próprias ou alheias) ilusoriamente securizantes, abrindo caminho para novas formas de estar, ver e sentir o mundo.

As crianças que crescem num ambiente onde o amor e a atenção estão ausentes entram na idade adulta sem esse sentimento de segurança interior. Em vez disso, têm um sentimento de insegurança, de que o mundo é imprevisível e avarento e de que não são passíveis de ser amadas e consideradas valiosas.

Da mesma forma que há um antes e um depois de um processo psicoterapêutico, há um antes e um depois deste livro.

Pontuação: 10/10
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A Balada do Medo (Norberto Morais)


A Balada do Medo foi a minha estreia com Norberto Morais, de que já muito ouvira falar a propósito de O Pecado de Porto Negro e revelou-se uma leitura magnética e compulsiva. Lembrando de certa forma o realismo mágico de Garcia Marquez, o autor evoca cenários de uma América Latina perdida nos confins da nossa memória imaginativa, transportando-nos para um mundo envolvente e fantasioso. 

O conflito armado cobrira o país de viúvas jovens e noivas por casar. E era tal a oferta e tanta a carência, que não fora difícil a Cornélio, homem de poucos predicados, lograr conquistas por onde passava. Modesto de charme e beleza natural, valia-lhe a finura do trato e um palrar meloso e atrevido, que, a par com a carência das escolhidas - para as quais tinha olhos de puma -, bastavam para a conquista.

Cornélio Pentecostes, um homem que a tantas mulheres se deu, que acabou por não se dar a nenhuma, vive consumido pela angústia da sua morte aparentemente encomendada e eminente. Dividido entre o desejo de prorrogar por um dia mais a terrível fatalidade e a incapacidade de desfrutar desses que são provavelmente os seus últimos dias, Cornélio arrasta-se pela sua aldeia natal num sem fim de lucubrações e hesitações, decisões e indecisões, ruminações e contradições várias. 

Nas horas solitárias pensava em Mariana, mas todas as noites o último bater do seu coração, antes de adormecer, pertencia, saudoso e culpado, a Rosa Cabrera. E, para não cometer a loucura de se perder, foi aos poucos afastando dela o sentido; enxotando para longe o pensamento que a procurava, até esta se tornar uma imagem perfeita eternizada no âmbar da memória. 

Devorado pela dúvida, Cornélio acaba por escolher um caminho que o obriga a virar costas ao mundo que afinal era o seu - que gentilmente o acolhia e amparava - catapultando-o para um lugar ao qual julgara não mais voltar, onde se confronta com um passado que nele persiste com a mesma força com que doze anos antes o deixara para trás. 

Bem o pressentimento lhe dissera não dever ter ido ali, matar a fantasia, acabar com o que em si ainda brilhava de esperança no amor sincero. Porque nunca ouvia ele a voz da razão? Porque insistia em ir?»    

Pontuação: 8/10
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Um homem apaixonado: A Minha Luta 2 (Karl Ove Knausgärd)

Neste que é o segundo livro da saga autobiográfica que se iniciou com A Morte do Pai, Karl Ove é um homem em ruptura.

«Toda a beleza existente no mundo, que deveria ser insuportável de tão grande, deixava-me simplesmente indiferente. A minha vida deixava-me indiferente. Era assim - e havia tanto tempo que era assim que não fui capaz de aguentar mais e decidira, portanto, fazer alguma coisa.»

É neste estado de alma que Karl Ove parte para a Suécia, sem outro plano definido que não seja o de virar costas a tudo aquilo que o conduziu aqui.

«Aos quarenta anos, a vida até então vivida, sempre a título provisório, transformava-se pela primeira vez na própria vida (...). Aos quarenta anos, compreendia-se que tudo estava só onde se estava, na vida quotidiana banal, sob a sua forma definida, e que as coisas continuariam a ser para sempre iguais, a menos que se fizesse alguma coisa em contrário.»  

Em Estocolmo descobre um mundo de possibilidades e experimenta uma sensação de liberdade há muito esquecida, originando um misto de estranheza e inebriamento. Nesse contexto, reencontra Linda, uma figura do passado por quem tiveram uma paixão fugaz, mas não correspondida. Este reencontro dará lugar a um novo capítulo na sua história. Um capítulo que, à semelhança de tudo o mais que fomos conhecendo da vida do autor, nada tem de simples ou linear.

«Mantive-me durante tida a minha vida adulta distante das outras pessoas, foi a maneira que arranjei para me defender, uma vez que me sinto tão espantosamente próximo dos outros nos meus pensamentos e sentimentos que basta que eles me ignorem ou me dêem pouca importância para que uma tempestade rebente dentro de mim»

Se ocasionalmente a densidade da escrita se revelou difícil de transpor - fruto de algum excesso de pormenor na descrição de determinados momentos que, por vezes, se torna fastidioso - valeu a pena para chegar até aqui.

Pontuação: 8/10

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(In)Fidelidade (Esther Perel)


Esther Perel - autora de Amor e Desejo na Relação Conjugal que  lera há alguns anos - tem uma forma brilhante de pensar e debruçar-se sobre as relações humanas, em particular a relação de casal. Longe da visão monocromática, redutora e moralista com que estes temas são muitas vezes abordados, Perel procura compreender o que está por trás do fenómeno, o que impele o ser humano para a vivência de qualquer coisa que pode ser tão desestruturante e causadora de tanto sofrimento.

Atualmente, a discussão em torno dos casos extraconjugais tende a ser fraturante, sentenciosa e míope. Embora a nossa cultura esteja cada vez mais aberta ao sexo, a infidelidade continua envolta numa nuvem de vergonha e secretismo. (...) As crenças sobre a infidelidade estão bem enraizadas na nossa psique cultural e questiona-las será certamente visto por alguns como irreverência perigosa ou bússula moral avariada da minha parte. 

Não condenar não significa aprovar e existe uma grande diferença entre compreender e justificar, mas quando reduzimos a conversa a simples juízos de valor, ficamos sem nada para debater, prossegue a autora, como ponto de partida para este exercício basilar que a psicologia desempenha como nenhum outro ramo do conhecimento, de para tudo olhar sem julgamento ou apriorismos morais, numa tentativa genuína de procurar significados e motivações, não só no intuito de compreender a infidelidade, mas também de extrair conclusões que permitam repensar o amor e as relações

A precipitação em optar pelo divórcio não dá margem ao erro, à fragilidade humana. Também não dá margem ao processo de reparação, superação e recuperação.

Não sendo um livro de ficção, a verdade é que se lê como tal, pela forma cuidada, inteligente e cativante como a autora vai desvendando o que se esconde a coberto de uma realidade tão censurável e universalmente praticada ao longo de toda a história da humanidade.

Por vezes, quando buscamos o olhar de outra pessoa, não é ao nosso companheiro que viramos costas, mas à pessoa em que nos tornámos. Mais do que um novo amante, procuramos encontrar uma outra versão de nós próprios. 

Pontuação: 9/10 
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O Melhor de 2019



É difícil eleger o livro de que mais se gostou ao longo de um ano. Há um punhado deles que se destacam para este lugar: Eliete, Um Gentleman em Moscovo, Berta Isla… Não obstante, e porque a vida é feita de escolhas, Em Tudo Havia Beleza terá sido aquele que mais me marcou, de entre tudo o que li em 2019:

1.      Como Pensar Mais Sobre Sexo (Alain de Botton)
2.      A ridícula ideia de não voltar a ver-te (Rosa Montero)
3.      Berta Isla (Javier Marias)
4.      Em Tudo Havia Beleza (Manuel Vilas)
5.      Cadernos do Subterrâneo (Fiódor Dostoiévski)
6.      A Equação da Felicidade (Mo Gawdat)
7.      Minha Ántonia (Willa Cather)
8.      As Grandes Cartas de Amor (Editora Guerra & Paz)
9.      Depois de Tu Partires (Maggie O'Farrell)
10.  Vida Desfeita (Sonali Deraniyagala)
11.  Eliete (Dulce Maria Cardoso)
12.  Seda (Alessandro Baricco)
13.  A Escolha (Kristin Hannah)
14.  O Chão dos Pardais (Dulce Maria Cardoso)
15.  Ethan Frome (Edith Wharton)
16.  São Lágrimas, Senhor, São Lágrimas (Fernando Correia)
17.  A Casa de Papel (Carlos María Domínguez)
18.  A arte de não amargar a vida (Rafael Santandreu)
19.  A Vida em Exame (Stephen Grosz)
20.  A Única História (Julian Barnes)
21.  A Louca da Casa (Rosa Montero)
23.  Serotonina (Michel Houellebecq)
24.  Perder para Ganhar (Montse Barderi)
26.  Tempos Difíceis (Charles Dickens)
27.  E Então Vais Entender (Claudio Magris)
28.  12 Regras para a Vida (Jordan B. Peterson)
29.  Tess dos D’Urbervilles (Thomas Hardy)
30.  O Voo do Corvo (Juliet Marillier)
31.  Luz Antiga (John Banville)
32.  Os Meus Sentimentos (Dulce Maria Cardoso)
33.  Princípio de Karenina (Afonso Cruz)
34.  Um Gentleman em Moscovo (Amor Towles)
35.  Na Urgência (Joana Benard Costa)
36.  A Voz (Juliet Marillier)
37.  A Morte do Pai (Karl Ove Knausgård)
38.  Porque Amamos (Helen Fisher)
39.  (In)fidelidade (Esther Perel)