«Escuta: a liberdade não existe, a felicidade não existe. Nunca a encontrarás. O que tens nunca te será suficiente.» Estou longe de perceber que o senhor diretor tem razão, e mais longe ainda de compreender que é possível conquistar ilhas de liberdade e gozá-las momentaneamente. Não posso saber, ainda, que nos cabe a nós a responsabilidade de estabelecer as fronteiras da liberdade que nos permitimos gozar.
A Gorda é mais um desses livros de que não recordo a história. Recordo uma sucessão de angústias, bem geridas, arrumadas e revisitadas ao longo das páginas onde a autora se coloca como se as estivesse a viver hoje, e nós com ela, no papel de ouvintes (neste caso, leitores).
A angústia de se ter menos do que se desejava, de se sentir menos do que ambicionava. A sensação de se ir buscar forças onde não se sabe e que se desconhecem. A sabedoria de se lidar com aquilo que se tem, sem permanentemente se concentrar no que não se tem. O atordoamento da descoberta de si, dos outros e do meio que nos rodeia. A frustração de a vida não ser como a imaginávamos, já para não dizer como a desejávamos.
A mamã ensinou-me a viver na clausura. Explicava-me, «nunca temos amigos» (...) Contrariando a mamã, demasiado pessimista para o meu gosto, sempre procurei os outros obsessivamente. Sempre insisti e muitas vezes me impus. E também coloquei a milhas quem bem me apeteceu, quem não correspondeu às minhas altíssimas expectativas. Crua, objetiva e impiedosamente.
Todas estas sensações estão presentes na narrativa de Isabela Figueiredo, que decorre numa cidade dos subúrbios de Lisboa, amada em todas as suas falhas e imperfeições, tal como a vida ali discorrida.
Pontuação: 7/10
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