A Louca da Casa (Rosa Montero)

A Louca da Casa é um livro sem género. Não é romance, não é ensaio, não é autobiografia, mas é um pouquinho de cada uma destas coisas. É um encadeamento de textos onde a autora nos fala sobre um conjunto de temas - a criação literária, a imaginação, a loucura - daquela forma muito próxima que nos faz sentir que estamos à conversa. 

A essência da loucura é a solidão. Uma solidão psíquica absoluta que provoca um sofrimento insuportável. Uma solidão tão superlativa que não cabe dentro da palavra solidão e que não pode ser imaginada por quem não a conheceu.

O ofício da escrita é um dos temas sobre os quais Rosa Momento mais se debruça, tanto numa perspectiva pessoal, como histórica, evocando alguns dos episódios ou vivências - uns mais trágicos, outros mais felizes ou caricatos - de diversos espíritos criativos do passado.

Que o fracasso faz adoecer, que o fracasso mata, é uma coisa que nos parece fácil de entender; mas o caso é que o sucesso também pode acabar connosco (...). De facto, o sucesso é uma característica do olhar dos outros (...). Uma vez colocados sob esse feixe de luz procedente do olhar dos outros, costumamos, humanos, desejar que o foco não se apague e isso coloca-nos numa situação de fraqueza e dependência.

Igualmente interessante é o périplo que a autora faz pela desconstrução de algumas das convenções sociais e atrocidades culturalmente aceites no passado mais recente, sempre com uma acutilância meiga e certeira.

Na realidade, o que deitou a perder o bom Zola  [que recusou assinar o manifesto de apoio a Óscar Wilde, condenado a dois anos de cadeia por ser homossexual] foi o preconceito. Porque os nossos preconceitos nos aprisionam, nos diminuem, nos idiotizam; e quando esses preconceitos coincidem com a convicção majoritária, transformam-nos em cúmplices do abuso e da injustiça, como no caso de Wilde.

Pontuação: 7/10
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