O protagonista deste romance, Florence-Claude Labouste, é um homem depressivo - nunca tinha sido nada senão um cobarde inconsistente: Tinha já quarenta e seis anos e não fora capaz de gerir a minha própria vida, enfim, parecia deveras plausível que a segunda parte da minha existência acabasse por ser, à imagem da primeira, um frouxo e doloroso desabamento.
Para combater a depressão, é-lhe prescrito um antidepressivo que lhe permite integrar os ritos maiores de uma vida normal no seio de uma sociedade evoluída (higiene, vida social reduzida à boa vizinhança, tarefas administrativas simples): os efeitos secundários indesejáveis mais frequentemente observados do Captorix são as náuseas, a diminuição da libido e a impotência. Nunca tinha tido náuseas, diz-nos.
Serotonina é um livro de excessos, todo um conjunto deles. Ao nível da linguagem, das imagens evocadas, da degradação de cenários e personagens, mas é ao mesmo tempo um livro extremamente bem conseguido, que toca questões elementares e transversais à natureza humana.
Kate, o meu último amor de juventude, o último e o mais grave. Depois dela pode-se dizer que a minha juventude terminou, nunca mais conheci os estados mentais que normalmente associamos à palavra juventude, aquela despreocupação encantadora (ou, consoante a escolha, aquela repugnante irresponsabilidade), aquela sensação de um mundo indefinido, aberto, depois dela a realidade fechou-se sobre mim, definitivamente.
Não será esta sensação de indefinição, de um mundo de possibilidades em aberto, a melhor definição de juventude? Vista à distância, a juventude é também um repositório de todas as ilusões, todas as esperanças e ideais, todas as histórias por acontecer ou completar:
Quando não consigo dormir, o que é mais ou menos todas as noites, ouço na minha pobre cabeça a mensagem do atendedor de chamadas dela (...), e a sua voz era fresca, era como entrar numa cascata depois de uma tarde poeirenta de verão, sentíamo-nos imediatamente lavados de toda a sujidade, de todo o abandono e de todo o mal.
São histórias que congelam no tempo, conferindo ao enredo e aos seus protagonistas um brilho ilusório, imerecido, que ocupam um espaço desmedido e despropositado, como se de inquilinos vitalícios e indesejados se tratassem, ocupantes difíceis despejar, que enredam aqueles que por aí se detêm, num labirinto de frustração, angústia e raiva.
Pontuação: 8/10
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