No Jardim do Ogre (Leila Slimani)

Leila Slimani traz-nos uma história de compulsão - uma compulsão sexual - vivida por uma mulher que, a custo, procura contrariar esse veio insidioso que emerge das profundidades do seu ser e a arrasta por um caminho de degradação moral, física e psíquica que cada compulsão consabidamente implica.

Quis o acaso que lesse este livro quando estava de férias, o que me permitiu fazê-lo com a mesma voracidade que perpassa toda a história. Como em qualquer comportamento aditivo, há qualquer coisa da ordem do desespero, da angústia e de uma agonia atroz que percorre toda a narrativa - sentida tanto por quem a vive, como por quem observa - como uma sensação de desastre à espera de acontecer, uma inevitabilidade terrível que, de uma forma empenhada, sistemática e metódica a protagonista procura combater, mas que apenas consegue, esforçadamente, adiar.

A cada página conseguimos sentir o pulsar de Adèle, na sua luta cadenciada e feroz contra um inimigo interior - que a domina, esmaga, sufoca - e é esse ritmo, quase orgânico, que nos liga e prende, inelutavelmente, ao percurso e destino do personagem.

«Adèle já não consegue pensar em mais nada. Levanta-se, bebe um café muito forte na casa adormecida. De pé, na cozinha, muda o peso de um pé para o outro. Fuma um cigarro. No duche, tem vontade de se arranhar, de rasgar o corpo em dois. Bate com a testa na parede. Quer que a agarrem, que lhe partam o crânio contra o vidro. Assim que fecha os olhos, ouve os barulhos, os suspiros, os gritos, os golpes. Um homem nu que arqueja, uma mulher que se vem.» 

Trata-se de um livro relativamente curto (184 páginas), mas nem por isso menos intenso e entusiasmante. 

Pontuação: 9/10
Sinopse aqui

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