Estes
foram os dois que mais me marcaram - embora o estilo seja muito semelhante
entre todos eles - e assenta na recolha de centenas de testemunhos, junto
daqueles que viveram o período da segunda guerra mundial, na antiga União
Soviética. No primeiro caso, a autora debruça-se sobre a visão que as crianças
(na altura) tiveram deste período de insanidade colectiva, sobre a forma como a
guerra chegou até eles, nas cidades ou aldeias em que viviam:
«Junho
de 1941...
Fixei
na memória. Era muito pequena, mas fixei tudo na memória....
A
última coisa da vida de paz que fixei foi um conto fantástico que a minha mãe
nos lia antes de adormecermos. O meu preferido, o Peixinho de Ouro.»
As Últimas Testemunhas
No
segundo caso, incide sobre a forma como a guerra foi vivida pelas mulheres que
foram chamadas a intervir e a lidar com os horrores da guerra - na linha da
frente - como enfermeiras, cozinheiras, lavadeiras, franco-atiradoras,
sapadoras:
«Estava
no meu turno da noite... Entrei na enfermaria dos feridos graves. Estava lá um
capitão... Antes do turno os médicos avisaram-me que ele iria morrer durante
aquela noite. Não chegaria à manhã... Pergunto-lhe "Como estás? Em que
posso ajudar?" Nunca me esquecerei... Ele sorriu de repente, um sorriso
tão luminoso no seu rosto extenuado: "Desabotoa a bata. Mostra-me o teu
peito... Não vejo a minha mulher há muito tempo..." Fiquei desconcertada,
nunca tinha sido sequer beijada. Respondi-lhe uma coisa qualquer. Saí a correr
e regressei uma hora depois.
Estava
morto. Com aquele sorriso no rosto...»
A Guerra Não Tem Rosto de Mulher
Não são
os acontecimentos em si que captam o interesse de Svetlana - os grandes eventos
e movimentos bélicos e estratégicos de que nos falam os manuais de história - mas o
impacto que esses acontecimentos tiveram em cada uma das pessoas que os viveu
singularmente:
«Não escrevo sobre a
guerra, mas sobre o ser humano na guerra. Não escrevo a história da guerra, mas
a história dos sentimentos. (…) Edifico templos com os nossos sentimentos… Com
os nossos desejos, desencantos. Sonhos. Do que existiu, mas pode escapar. (…)
Interessa-me não só a realidade que nos rodeia, mas também a que está dentro de
nós.»
Pontuação: 10/10
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