E Então Vai Entender (Cláudio Magris)

Descobri Cláudio Magris ao passar os olhos por uma lista de autores que repetidamente se perfilam como candidatos ao Nobel da literatura.

Dando voz a uma espécie de Eurídice - figura mitológica pela qual Orfeu desce às profundezas de Hades, na tentativa de a trazer de volta ao mundo dos vivos - a voz que nos fala explica porque razão fez o seu amado voltar-se para trás antes de chegar ao fim do percurso, determinando assim a impossibilidade permanente daquele regresso tão desejado. 


Daí a pouco, até os amigos faziam por se livrarem dele, aquela melancolia incansável incomodava as pessoas e também aquele seu bater no peito, aquele seu acusar-se de saber lá quais culpas...

Numa tonalidade que me remeteu para uma espécie de embalo, que encontrei também na escrita de Saunders, em Lincoln no Bardo (igualmente assente em vozes do limbo) a narrativa evoca momentos felizes, de grande simbiose entre os amantes, agora separados pelos muros intransponíveis da vida e da morte. 

Mas era apaixonado e teimoso, como um verdadeiro neurótico. É bom ser-se amada por um neurótico, dá segurança. Sabes que não lhe vai passar, é uma ideia fixa, resistente a todos os golpes da vida. Não creio que me teria enamorado assim tanto se ele não fosse tão neurótico.

De quanto desequilíbrio é feita uma história de amor, quanto padecimento, quanta loucura e quanta dor? É uma história curtinha (71 páginas) que não chega ao dia seguinte - sendo este o seu principal defeito, no que a mim me toca - mas fica connosco muito para além disso.

Pontuação: 7/10
Sinopse aqui 

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