Mas não é só isso. Muitos outros autores provocam essa mesma sensação de prazer, mas de formas muito diferentes. Voltando à embriaguez, é que Bukowski parece estar permanecer embriagado enquanto escreve, parece um tipo diante de quem nos sentamos num bar, no final de uma longa noite, que nos conta de enfiada uma série de episódios, aventuras e peripécias - as mais impróprias e inverosímeis - como só alguém muito alcoolizado consegue fazer. E que nos leva a pensar em que estado estaremos nós também, para nos termos posto ali a ouvir aquilo tudo.
Era definitivamente capaz de levar a cabo uns jogos sórdidos e irreais. Qual era a minha motivação? Estaria a tentar desforrar-me de alguma coisa? (...) Eu estava a deixar que as coisas acontecessem sem pensar nelas. Não estava a ter em conta nada para além do meu próprio prazer egoísta e reles. (...) Eu mexia em vidas e almas como se fossem os meus brinquedos.
Enfim, Bukowski é desbocado, inconveniente, inapropriado, deselegante, grosseiro, indecoroso. Mas a sua escrita cativa por essa mesma crueza e transparência, uma espécie de liberdade sem freio, que faz dele aquilo que é e que está à vista.
Pontuação: 9/10
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