Este é um
daqueles livros que poderiam integrar a categoria de confort books.
À semelhança do que acontece com a confort food, não é fabuloso, do
ponto de vista nutricional, mas sabe bem e há dias em que não há nada que
queiramos mais.
É um
livro que se lê de uma penada. Parece uma espécie de companhia que trazemos no bolso, que fala connosco de cada vez que o abrimos. É claro que
todos os livros fazem isso, de uma forma ou de outra, mas há aqueles para onde
espreitamos de longe, como se ninguém, no enredo, se apercebesse de que estamos
ali, e há aqueles, como este, em que a autora se nos dirige directamente e
conversa connosco, do princípio ao fim.
É um
livro ligeiro - com tudo o que isso tem de bom e mau - mas cheio de conteúdo. E
nesse campo, já não poderei dizer que seja ligeiro. A autora aborda a vida de
Marie Curie - quem era, de onde veio, para onde foi e por onde passou - numa
época em que o mundo não estava feito para mulheres como ela, com as suas
ambições pessoais, profissionais, académicas, intelectuais, etc.
Marie
Curie teve um percurso notável a todos os níveis e é um privilégio conhecer os
meandros de uma vida assim, contado por alguém que não se cinge aos feitos
científicos, mas que olha para a mulher que alcançou e viveu esses feitos, à
mistura com outros tantos, de que é composta uma vida.
Rosa
Montero intercala a vivência do luto de Marie Curie, com base no diário escrito
por esta após o falecimento do marido - «por momentos a minha dor parece que
enfraquece e adormece, mas logo renasce, tenaz e poderosa» - com a sua
própria experiência de luto, também por morte precoce do marido - «ainda não
passara um mês sobre a morte de Pierre e a primavera explodia com aquela
desconcertante indiferença com que a vida continua depois da morte de alguém
querido» - entrelaçando uma e outra de forma sensível, emotiva, terna
e inteligente.
A vida -
seja ela qual for - está repleta de momentos difíceis, espinhosos e dolorosos.
Não há como evitá-lo. O importante é saber lidar com todas essas coisas que nos
acontecem. E é esse o conforto que se retira de um livro assim, o perceber que
cada uma destas pessoas foi capaz de lidar com as suas circunstâncias, por
vezes tão duras, tão agrestes, tão adversas. E acreditar que alguma dessa
sabedoria, por ínfima que seja, fique connosco.
«A vida abre caminho
com a mesma obstinação com que uma plantinha minúscula é capaz de rasgar o chão
de cimento para se assomar. Mas, ao mesmo tempo, a mágoa também segue o seu
curso. É é isso que a nossa sociedade não gere muito bem: escondemos ou
proibimos, imediata ou tacitamente, o sofrimento.»

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