Viajante
à Luz da Lua é um livro que tem de ser lido. As primeiras páginas começam com
um registo de intimidade, uma espécie de confidência, que nos prende e cativa,
acompanhando-nos ao longo de toda a narrativa. Percebe-se, desde a primeira
linha, que algo não está bem, e é sobre isso que o narrador nos vai falar.
Há uma
espécie de mau prenúncio no início desta viagem a Itália - onde onde o narrador
se encontra em lua-de-mel com a mulher, Erzsi - ao mesmo tempo que percebemos um forte pulsar de
vida, um recrudescimento de qualquer coisa no íntimo do protagonista,
despertada por aquelas ruas, por aquele ambiente específico que o agarra,
desencaminha e inebria, ainda não sabemos bem porquê.
Este
estado de consciência alterada leva Mihály - o protagonista - a seguir por um
caminho de descoberta de si próprio, do mundo à sua volta, do passado e da
juventude perdida.
«Permaneceram calados durante muito tempo. Mihály tentava compreender Ervin. A única explicação era ter apagado tudo dentro dele. Obrigado a romper com todos, sem dúvida que arrancara desde a raiz da sua alma os sentimentos que o poderiam ligar aos outros. Agora já não sofria, estava ali vazio, estéril, austero, em cima do monte... Estremeceu.»
É uma
viagem intensa, inebriante, múltipla e profunda, que temos o privilégio de
acompanhar pela mão deste romancista húngaro, que traz ecos de Sándor
Márai (seu conterrâneo e contemporâneo), ao mesmo tempo que faz lembrar O Fio
da Navalha, de Somerset Maugham.

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