Cinzas (Grazia Deledda)

 
Cinzas é o terceiro romance que leio desta autora, que descobri no meu grupo de leitura - talvez uma das melhores formas de descobrir um livro, quando nada sabemos sobre ele e começamos a ler sem quaisquer expectativas - e, cada um deles, foi sempre uma absoluta e maravilhosa surpresa. 

Escrito com uma beleza e intensidade sublimes, a autora pega-nos pela mão e leva-nos a conhecer a vida e a realidade dos seus personagens – descritos com uma densidade psicológica magistral – que acompanhamos como se estivéssemos ali, ao lado deles, a assistir ao desenrolar de uma existência dramática, pungente e feroz, no cenário aparentemente tão longínquo e comovente da Sardenha rural no início do séc. xx.

São várias as passagens que poderia destacar, mas deixo estas que me tocaram especialmente: 

«Oprimida pela solidão e pela miséria, Oli amava o rapaz, por ele representar os objetos e as terras maravilhosas que vira, a cidade onde estivera, o rico patrão que servia, os fantásticos desígnios que ia formando para o futuro; e ele amava Oli porque era linda e ardente. Ambos inconscientes, primitivos, impulsivos e egoístas, amavam-se por exuberância de vida e por necessidade de prazer.»  

E um pouco mais adiante:

«Pela primeira vez, Margherita, já certa de que podia abandonar-se sem medo ou remorsos ao amor do belo rapaz que por ela enlouquecia, mostrou-se apaixonada e ardente, como Anania não ousava sonhá-la sequer: e ele saiu da entrevista a cambalear, cego e fora do mundo.»

É um livro que nos abala, que mexe com a nossa estrutura e fica connosco. 

Pontuação: 10/10
Sinopse aqui

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