Feliz Natal 2018
O Demónio da Depressão (Andrew Solomon)
Andrew Solomon foi um dos autores de não ficção que mais gostei de ler nos últimos anos. O Demónio da Depressão começa com uma afirmação tremenda, ao dizer que a depressão é a imperfeição do amor e prossegue dizendo:
O livro, redigido com uma sensibilidade extraordinária e uma beleza invulgar, tem por base um sem número de testemunhos que o autor - ele próprio vítima de depressão durante toda a sua vida - recolhe junto de diversas pessoas que viveram ou acompanharam de perto processos depressivos graves.
Ao longo de diversos capítulos, o autor revela não só o lado negativo da doença - como foi vivido - mas também o outro lado, como foi ultrapassado (ou gerido) em cada um dos casos, revelando pequenas nuances que fazem a diferença entre viver com depressão ou ser vivido por ela, e termina com uma extensa investigação sobre os diversos tratamentos e abordagens actualmente disponíveis. Tudo num tom muito intimista, despretensioso e exaustivo, sem nunca ser - apesar das suas 816 páginas – minimamente extenuante.
Pontuação: 9/10
Sinopse aqui
Para sermos criaturas que amamos, temos de ser criaturas capazes de desesperar com o que perdemos, e a depressão é o mecanismo desse desespero. Quando surge, degrada o indivíduo e acaba por eclipsar a capacidade de dar ou receber afeto. É a solidão dentro de nós que se manifesta e que destrói não só as nossas ligações aos outros como a capacidade de estarmos em paz com nós mesmos. O amor, apesar de não ser profilático contra a depressão, é o que ampara a mente e a protege dela mesma.
O livro, redigido com uma sensibilidade extraordinária e uma beleza invulgar, tem por base um sem número de testemunhos que o autor - ele próprio vítima de depressão durante toda a sua vida - recolhe junto de diversas pessoas que viveram ou acompanharam de perto processos depressivos graves.
A vida está repleta de tristezas: façamos o que fizermos, acabamos por morrer; todos estamos aprisionados na solidão de um corpo autónomo, o tempo passa, e o que foi não voltará a ser.
Ao longo de diversos capítulos, o autor revela não só o lado negativo da doença - como foi vivido - mas também o outro lado, como foi ultrapassado (ou gerido) em cada um dos casos, revelando pequenas nuances que fazem a diferença entre viver com depressão ou ser vivido por ela, e termina com uma extensa investigação sobre os diversos tratamentos e abordagens actualmente disponíveis. Tudo num tom muito intimista, despretensioso e exaustivo, sem nunca ser - apesar das suas 816 páginas – minimamente extenuante.
Pontuação: 9/10
Sinopse aqui
Viajante à Luz da Lua (Antal Szerb)
Viajante
à Luz da Lua é um livro que tem de ser lido. As primeiras páginas começam com
um registo de intimidade, uma espécie de confidência, que nos prende e cativa,
acompanhando-nos ao longo de toda a narrativa. Percebe-se, desde a primeira
linha, que algo não está bem, e é sobre isso que o narrador nos vai falar.
Há uma
espécie de mau prenúncio no início desta viagem a Itália - onde onde o narrador
se encontra em lua-de-mel com a mulher, Erzsi - ao mesmo tempo que percebemos um forte pulsar de
vida, um recrudescimento de qualquer coisa no íntimo do protagonista,
despertada por aquelas ruas, por aquele ambiente específico que o agarra,
desencaminha e inebria, ainda não sabemos bem porquê.
Este
estado de consciência alterada leva Mihály - o protagonista - a seguir por um
caminho de descoberta de si próprio, do mundo à sua volta, do passado e da
juventude perdida.
«Permaneceram calados durante muito tempo. Mihály tentava compreender Ervin. A única explicação era ter apagado tudo dentro dele. Obrigado a romper com todos, sem dúvida que arrancara desde a raiz da sua alma os sentimentos que o poderiam ligar aos outros. Agora já não sofria, estava ali vazio, estéril, austero, em cima do monte... Estremeceu.»
É uma
viagem intensa, inebriante, múltipla e profunda, que temos o privilégio de
acompanhar pela mão deste romancista húngaro, que traz ecos de Sándor
Márai (seu conterrâneo e contemporâneo), ao mesmo tempo que faz lembrar O Fio
da Navalha, de Somerset Maugham.
Cinzas (Grazia Deledda)
Cinzas é o terceiro romance que leio desta autora, que descobri
no meu grupo de leitura - talvez uma das melhores formas de descobrir um livro,
quando nada sabemos sobre ele e começamos a ler sem quaisquer expectativas - e,
cada um deles, foi sempre uma absoluta e maravilhosa surpresa.
Escrito com uma beleza e intensidade sublimes, a autora
pega-nos pela mão e leva-nos a conhecer a vida e a realidade dos seus
personagens – descritos com uma densidade psicológica magistral – que
acompanhamos como se estivéssemos ali, ao lado deles, a assistir ao desenrolar
de uma existência dramática, pungente e feroz, no cenário aparentemente tão
longínquo e comovente da Sardenha rural no início do séc. xx.
São várias as passagens que poderia destacar, mas deixo estas que me tocaram especialmente:
«Oprimida
pela solidão e pela miséria, Oli amava o rapaz, por ele representar os objetos
e as terras maravilhosas que vira, a cidade onde estivera, o rico patrão que
servia, os fantásticos desígnios que ia formando para o futuro; e ele amava Oli
porque era linda e ardente. Ambos inconscientes, primitivos, impulsivos e
egoístas, amavam-se por exuberância de vida e por necessidade de prazer.»
E um pouco mais adiante:
«Pela primeira vez,
Margherita, já certa de que podia abandonar-se sem medo ou remorsos ao amor do
belo rapaz que por ela enlouquecia, mostrou-se apaixonada e ardente, como
Anania não ousava sonhá-la sequer: e ele saiu da entrevista a cambalear, cego e
fora do mundo.»
É um livro que nos abala, que mexe com a nossa estrutura e fica connosco.
Pontuação: 10/10
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