O conflito armado cobrira o país de viúvas jovens e noivas por casar. E era tal a oferta e tanta a carência, que não fora difícil a Cornélio, homem de poucos predicados, lograr conquistas por onde passava. Modesto de charme e beleza natural, valia-lhe a finura do trato e um palrar meloso e atrevido, que, a par com a carência das escolhidas - para as quais tinha olhos de puma -, bastavam para a conquista.
Cornélio Pentecostes, um homem que a tantas mulheres se deu, que acabou por não se dar a nenhuma, vive consumido pela angústia da sua morte aparentemente encomendada e eminente. Dividido entre o desejo de prorrogar por um dia mais a terrível fatalidade e a incapacidade de desfrutar desses que são provavelmente os seus últimos dias, Cornélio arrasta-se pela sua aldeia natal num sem fim de lucubrações e hesitações, decisões e indecisões, ruminações e contradições várias.
Nas horas solitárias pensava em Mariana, mas todas as noites o último bater do seu coração, antes de adormecer, pertencia, saudoso e culpado, a Rosa Cabrera. E, para não cometer a loucura de se perder, foi aos poucos afastando dela o sentido; enxotando para longe o pensamento que a procurava, até esta se tornar uma imagem perfeita eternizada no âmbar da memória.
Devorado pela dúvida, Cornélio acaba por escolher um caminho que o obriga a virar costas ao mundo que afinal era o seu - que gentilmente o acolhia e amparava - catapultando-o para um lugar ao qual julgara não mais voltar, onde se confronta com um passado que nele persiste com a mesma força com que doze anos antes o deixara para trás.
Bem o pressentimento lhe dissera não dever ter ido ali, matar a fantasia, acabar com o que em si ainda brilhava de esperança no amor sincero. Porque nunca ouvia ele a voz da razão? Porque insistia em ir?»
Pontuação: 8/10
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