Não suportaria perde-la. Sabia que era o momento de me levantar e de a envolver nos meus braços, não para a tranquilizar - que me importava o medo dela? - mas para a impedir à força de partir. No entanto, assaltara-me uma letargia peculiar, a aterrada letargia que se apodera do nervoso ratinho quando olha apavorado para cima e vê o falcão a pairar não muito longe, e não conseguia fazer nada senão ficar ali sentado à observá-la, enquanto ela pegava enfiava as cuecas sob o vestido e se baixava para pegar nos sapatos de veludo.
Luz Antiga decorre em dois momentos temporais, separados por cerca de meio século de existência. Um homem recorda o romance tórrido que manteve com a mãe de um amigo de liceu, uma ligação ao mesmo tempo superficial e intensa (porventura o seu único amor, mas ainda assim difícil de classificar como tal) movida por emoções levianas e pueris, mas simultaneamente violentas na sua expressão.
Já me tinha visto chorar, mas de raiva ou porque queria que ela se submetesse às minhas vontades, não assim, daquela forma vil e indefesa, e suponho que inconscientemente se lembrou de que, no fim de contas, eu era um miúdo, um miúdo que ela conduzira para águas muito, muito profundas, em que dificilmente saberia nadar.
Paralelamente, traz-nos rasgos da existência presente desse homem, em tudo tão diferente da juventude e impetuosidade feroz do início da adolescência. Neste interstício, percebemos que há um universo de distância entre o que recordamos e o que aconteceu.
Era aquele tipo de sentimento que eu recordava quando era jovem e tudo era novo e o futuro não conhecia limites, um estado de temerosa e exaltada espera (...). O que é que hoje me batera ao de leve no ombro com o seu diapasão? Era o passado, de novo, ou seria o futuro?
Pontuação: 7/10
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