Eliete (Dulce Maria Cardoso)

Confesso que sou um pouco preconceituosa nas minhas escolhas literárias. Eliete foi o livro indicado pelo meu grupo de leitura este mês e foi uma tremenda surpresa, com a qual dificilmente me depararia por iniciativa própria e isso fez-me pensar. Por norma escolho as minhas leituras entre autores estrangeiros, a maior parte deles com uma longa carreira literária e muitas provas dadas, pelo que sinto que são escolhas seguras. A verdade, porém, é que me escapa muita coisa, e isso torna-se evidente quando me deparo com o prazer de ler um autor que me veio parar às mãos por acaso (o feliz acaso de pertencer a um grupo de leitura) e sem passar pelo meu crivo.

Não o achava cruel, maldoso, canalha, e ainda que não o pudesse dizer a ninguém, por não o saber traduzir em palavras, compreendia que não era fácil prescindir de quem nos amava tanto sem exigir nada, ou quase nada, em troca. E eu amava-o desmesuradamente.

Eliete conta-nos a história de uma mulher menos que perfeita, que vive uma vida pouco mais que banal e que lida com todas essas imperfeições e banalidades como qualquer um de nós, anónimos protagonistas de vidas igualmente imperfeitas e banais. E, em parte, é isso que faz dela uma obra tão cativante. Não há feitos extraordinários, não há crime e perseguição ou intriga política, há simplesmente uma vida vivida e descrita com o mesmo desencanto e sobressalto de qualquer vida comum.

A técnica de relaxamento revelava-se impotente contra o caos do interior da arrecadação e o caos de memórias para onde era arrastada de cada vez que espreitava para dentro de um caixote (...). Avistava estilhaços da minha vida, uns mais cortantes, outros mais rombos, uns mais brilhantes, outros mais baços.

Sendo A Vida Normal a primeira parte da história de Eliete, aguardo ansiosamente pela sua continuação, enquanto vou percorrendo, com entusiasmo, a restante obra da autora.

Pontuação: 8/10
Sinopse aqui

Sem comentários:

Enviar um comentário