Coração Impaciente (Stefan Zweig)

Stefan Zweig é um autor que dificilmente encontrarei palavras para descrever. O meu primeiro contacto com ele foi através de uma colectânea de contos - hoje dispersos por várias edições da Relógio d'Água - que dava pelo nome de Confusão de Sentimentos (um dos contos da colectânea) e fiquei como que inebriada, por tamanha beleza e intensidade. Sendo o romance o meu género favorito, o livro que destaco teria de ser o Coração Impaciente, que relata a história de uma relação que se estabeleceu "acidentalmente" entre Hofmiller e uma jovem inválida.

“Em nenhum abraço de uma mulher, nem no mais apaixonado, senti alguma vez deslevo tão intenso como neste afago quase de sonho! Quanto tempo isto durou, não sei. Tais acontecimentos ficam para além das medições normais do tempo (...) Perdido em vago e apático sonho, sentia o perpassar dos seus dedos na minha pele e ficava-me imóvel, confuso, envergonhado por ser amado tão ilimitadamente, e não sentir mais do que confuso acanhamento.»

Trata-se de uma história de desencontro amoroso, que tem por base um equívoco, difícil de desfazer, que desperta nos personagens os mais inflamados sentimentos, emoções e desejos, norteados pelo medo de ferir, de um lado, e pelo medo de oprimir, sufocar e - em última análise - de perder o objecto de tanta afeição, do outro.

«Severas, frias, acusadoras, as suas pupilas cravaram-se em mim, como se pudesse adivinhar os pensamentos por detrás da minha fronte. Não conseguira iludir a sua clara intuição. Notara que me tinha esquivado à sua ternura; este rápido beijo não significava amor, mas embaraço e compaixão.»

O que inexoravelmente prende, cativa, enreda e enleva na escrita de Stefan Zweig - catapultando o leitor para uma espécie de limbo de onde sai meio cambaleante de cada vez que é forçado a interromper a leitura - são os afectos ardentes, febris, profundos e violentos, descritos por Zweig com uma tal intensidade, argúcia e detalhe que se ouve tinir cada fibra, cada nervo de que é composto o íntimo dos seus personagens. Na descrição do tumulto que marca todo o enredo, Zweig utiliza uma linguagem de uma beleza arrebatadora, que nos transporta para outro tempo que parece ter vindo a desaparecer, aos poucos, da literatura (já para não dizer da realidade) dos nossos dias.

«Os que amam são dotados de estranha clarividência para com o verdadeiro sentir do ente amado; como o amor, de acordo com a sua íntima essência, exige o ilimitado, tem de tornar-se-lhe insuportável toda a medida, toda a calma. Numa ponderada recusa notam resistência, em toda a fria tranquilidade observam, com razão, oculta defesa.»

Pontuação: 10/10
Sinopse aqui

Sem comentários:

Enviar um comentário